No apagar das luzes...

Colecionar sempre foi um hábito meu, um passatempo. Fossem cards, gibis, figurinhas, selos, qualquer coisa, para um saudosista uma coleção diz muito. E com ingressos de jogos (e também de shows) não seria diferente. Muitos infelizmente se perderam com o tempo - os ingressos de papel das décadas de 80 e 90 acabaram se perdendo, mesmo porque eu era muito novo para guardá-los da melhor forma. A coleção acabou (re)tomando corpo quando os ingressos da BWA, de plástico, passaram a ser utilizados.

Minha primeira experiência em um estádio foi em um amistoso em 1989; meu primeiro jogo oficial foi logo depois, no Campeonato Paulista de 1990; já o primeiro título veio no Brasileiro de 1993. Não foi até a época da internet que comecei a publicar ingressos e fotos das partidas e que estive - a comunidade do Palmeiras no Orkut era o veículo, e lá fiz muitos conhecidos com quem me encontrava nos jogos. E apenas em 2011 criei este blog e passei a publicar regularmente fotos e ingressos, além de opiniões sobre os jogos - e isto explica porque os primeiros jogos têm poucos comentários, já que eu os escrevi anos depois.

Foram no total 381 partidas (352 como mandante e 29 como visitante), num total de 247 vitórias, 71 empates e 63 derrotas - um aproveitamento de 71% (pelos critérios de hoje, desconsiderando que vitórias valiam 2 pontos até meados dos anos 90), contra 107 adversários diferentes. Gritei gol em 702 ocasiões, e xinguei em outras 300 - saldo positivo de 402, num total de 20 estádios. Estive em muitas campanhas, mas considerando apenas as finais e jogos decisivos, presenciei 7 títulos. E, obviamente, vivi a fase de transição entre o antigo Palestra Italia e a moderna arena Allianz Parque (que sigo chamando de Palestra).

Anotei também os gols 'redondos' desta caminhada, conforme eram registrados no blog. Foram eles:

• 1º gol - Careca Bianchesi vs. São Caetano (Amistoso 1989)
• 100º gol - Lúcio vs. Joinville (Série B 2003)
• 200º gol - Pedrinho vs. Santo André (Libertadores 2005)
• 300º gol - Marcos Assunção vs. SPFC (Brasileiro 2011)
• 400º gol - Barrios vs. Vitória (Brasileiro 2016)
• 500º gol - Borja vs. Linense (Paulista 2018)
• 600º gol - Raphael Veiga vs. Atlético-PR (Brasileiro 2019)
• 700º gol - Rony vs. Cerro Porteño (Libertadores 2022)

Foram três décadas seguindo o Palmeiras, com uma ênfase muito maior a partir do final do ano 2000. Muitas ocasiões memoráveis, muitas vitórias e viradas históricas, e também muita decepção e sofrimento (como bem sabemos), o que também faz parte. Momentos estes que não trocaria por nada.

Uma mudança na vida profissional me fez mudar de país, e com isso não será mais possível seguir com a rotina de jogos, com aquela "quebrada" no meio da semana para distrair, tomar uma cerveja e acompanhar o clima de jogo no Palestra. Será difícil a adaptação - ver jogos de longe, com delay, sem poder dar aquele grito que junto aos outros 40 mil (isso hoje em dia... há alguns anos éramos 5, 6 mil) que pode empurrar pro gol aquela bola do último minuto.

Foram glórias, tristezas, emoções diversas, mas cheguei ao fim de uma era. Ainda pretendo ir a jogos (se conseguir) em eventuais idas ao Brasil. Se há uma certeza é a de que acompanharei à distância, por qualquer meio que conseguir, sempre vestindo o manto. Avanti Palestra!

24/07/2022 - Palmeiras 2x1 Internacional

Estádio Palestra Italia / Allianz Parque - Campeonato Brasileiro

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Com a reta final da mudança vieram os compromissos e viagens, e com eles as inevitáveis faltas aos jogos do Palmeiras. Estive fora, tive compromissos e deixei de presenciar algumas das últimas partidas pelo Brasileiro e Copa do Brasil. Esta, no entanto, não poderia perder: seria a última em um bom tempo. Cheguei cedo, busquei aproveitar ao máximo a atmosfera (e, claro, a cerveja do pré-jogo), e segui para empurrar o Palmeiras em mais uma batalha.

Começamos em cima do adversário (que também disputa as primeiras posições do campeonato), com muito volume de jogo e com boas descidas que poderiam ter aberto o placar antes dos dez minutos. Foi aos 17, no entanto, que Zé Rafael abriu pra Dudu que cruzou para Gomez, tal como um centroavante, fazer o primeiro da partida.

E o ritmo não caiu - só dava Palmeiras, que desceu ao menos mais cinco vezes com perigo, envolvendo a defesa adversária e criando chances reais de ampliar o placar enquanto a defesa, sólida, rebatia tudo o que o outro time tentava. De tanto insistir chegamos ao gol com Murilo, que completou para as redes o rebote que o goleiro deu após bela cobrança de falta de Scarpa. O VAR, bizarramente (pois não traçou as linhas de impedimento no exato momento da cobrança, mas um 'frame' depois), anulou o gol e fomos pro intervalo com a vantagem mínima.

Sem mudanças, o jogo ficou travado pelos primeiros minutos do segundo tempo, e ao final do primeiro terço Weverton foi obrigado a fazer um pequeno milagre para evitar o gol de empate. A partir daí  novamente só deu Palmeiras! Zé Rafael chegou a mandar duas bolas seguidas no travessão, ambas após escanteios cobrados por Scarpa, numa sequência inacreditável.

Após mudanças dos dois lados o jogo ficou mais cadenciado, e sofremos um susto ao levar uma bola na trave em batida de fora da área. Infelizmente, pouco depois em um contra-ataque rápido levamos o empate, com uma bola inapelável batida no ângulo. Weverton nada pôde fazer. A torcida se ergueu e abraçou o time, que correspondeu e foi pra cima. Aos 42, Vanderlan abriu pela esquerda e cruzou na área e Gabriel Menino, também como centroavante, completou pro gol. Explosão no Palestra, mantida ainda por uma nova grande defesa de Weverton no último minuto.

Com a vitória o Palmeiras manteve com folga a liderança do Brasileiro ao final do primeiro turno. Há muito caminho pela frente (além das disputas da Libertadores), mas são inegáveis a qualidade e o foco do time, do conjunto liderado por Abel Ferreira. Independentemente do resultado ao final do ano temos que aproveitar estes momentos, pois o Palmeiras vem dando todos os motivos para dar orgulho a cada um de seus torcedores.

Foi uma despedida feliz! Até um dia, Palestra!

06/07/2022 - Palmeiras 5x0 Cerro Porteño (PAR)

Estádio Palestra Italia / Allianz Parque - Copa Libertadores da América

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A vantagem de três gols construída no jogo de ida fora de casa fez com que Abel optasse por um time misto para a partida decisiva. Mayke, Menino, Wesley e Navarro figuraram entre os 11 iniciais, que tinha Veiga como meia e Dudu pela ponta direita. Navarro, no entanto, contundiu-se ainda no primeiro tempo e Rony entrou em seu lugar.

O time demorou a engrenar e foram poucos lances de perigo durante todo o primeiro tempo, mas o gol saiu aos 35 após jogada ensaiada de escanteio. Gomez subiu junto ao zagueiro para marcar, mas o juiz deu o gol contra. Uma defesa de Weverton em falta pro adversário foi o último momento de emoção do primeiro tempo.

O Palmeiras voltou sem mudanças na formação, mas mostrando muito mais vontade e disposto a aumentar o placar. O jogo seguiu movimentado, e Abel realizou trocas pontuais para poupar os jogadores. Foi quando a enxurrada de gols aconteceu, e em dez minutos marcamos mais quatro gols. Rony marcou após bom passe de Mayke, que o enxergou livre dentro da área após bom contra-ataque.

O terceiro veio dois minutos depois: Weverton pra Atuesta, que tocou para Rony servir Breno Lopes de calcanhar. O herói do Bi bateu cruzado para vencer o goleiro.Pouco depois, o quarto gol: Wesley cobrou escanteio para a cabeçada inapelável de Gomez.

E então veio o momento catarse da noite: Mayke enfiou para Breno Lopes em velocidade pela direita, e ele cruzou para Rony, que se desmarcava dentro da área. Nosso camisa dez arrumou o corpo e fez o movimento perfeito, finalmente marcando seu gol de bicicleta. Um golaço, que foi também o gol de número 700 registrado neste blog.

Com campanha perfeita o Palmeiras segue para sua quinta disputa de quartas-de-final nos últimos cinco anos - um feito, sem dúvida. Este foi meu último jogo de Libertadores antes de minha mudança, e muitas excelente lembranças ficarão de todos os confrontos deste torneio.

15/06/2022 - Palmeiras 4x2 Atlético-GO

Estádio Palestra Italia / Allianz Parque - Campeonato Brasileiro

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Sem Marcos Rocha e com Mayke ainda em transição física Abel entrou com três zagueiros para o contronto desta noite - foi a chance de testar uma formação diferente que teria Gomez caindo pela lateral direita para a cobertura. Ainda sem Veiga tivemos Scarpa na armação com Dudu e Verón nas pontas.

Com muito mais qualidade técnica o Palmeiras criou jogadas de perigo e parecia que o gol era questão de tempo (apesar da cera do adversário), mas em um contra ataque acabamos sendo vazados após infelicidade dupla de Luan: nosso zagueiro tentou tirar a primeira bola de cabeça e acabou acertando a trave de Weverton, e no rebote o mesmo Luan tentou afastar e marcou contra.

Apesar da momentânea falta de atenção o Palmeiras foi pra cima e a reação avassaladora começou aos 41: Luan se redimiu ao enfiar uma bola perfeita na direita para Verón, que serviu Zé Rafael para fazer o gol de empate. Segundos depois, na descida seguinte, Scarpa cobrou escanteio, Luan desviou no primeiro pau e Gomez chegou como um centroavante na segunda trave para virar o jogo.

E tinha mais: no minuto seguinte Dudu roubou a bola na intermediária e enfiou para Veron na direita que, ao invés de finalizar, tocou para a chegada de Scarpa que fuzilou o ângulo direito do goleiro. E ainda no primeiro tempo após novo escanteio de Scarpa, Rony brigou com o goleiro e a bola sobrou para Gomez marcar seu segundo gol na partida.

Foram diversas chances no segundo tempo mas o time já estava claramente poupando forças. Breno Lopes entrou e marcou o quinto, que foi corretamente anulado por impedimento. Mesmo com ampla superioridade acabamos levando o segundo gol numa rara falha de Weverton, mas não houve tempo para muito mais. Vitória do Palmeiras e manutenção do topo da tabela no Brasileiro.

09/06/2022 - Palmeiras 4x0 Botafogo

Estádio Palestra Italia / Allianz Parque - Campeonato Brasileiro

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Weverton e Wesley viajaram na madrugada desde o Japão após os jogos da seleção para que pudessem estar à disposição de Abel para esta partida, e desta forma o Palmeiras foi quase completo para a partida que poderia lhe devolver a liderança do campeonato. E não deu outra: com uma apresentação de altíssimo nível o time manteve pleno domínio de toda a partida.

Aos 5 minutos o primeiro gol, corretamente anulado pelo VAR dada a posição milimétrica de impedimento de Luan, em quem a cabeçada de Murilo bateu antes de entrar. Uma pena. Pouco depois, no entanto, Dudu enfiou para Scarpa em profundidade pela direita, e ele cruzou rasteiro para trás para a chegada de Rony, que mandou um  balaço indefensável. Um a zero!

No lance seguinte, após uma roubada de bola de Rony tivemos troca de passes entre Verón, Scarpa e Dudu para que este último finalizasse com um chute fortíssimo que explodiu na trave. Novamente nem deu tempo para reclamar, pois minutos depois Piquerez lançou alto pra área, a bola viajou por todos e encontrou Scarpa na direita que, inteligentemente, ao invés de cruzar dominou e completou para fazer nosso segundo gol.

Só dava Palmeiras e novamente chegamos com Dudu, que completou passe de Rony para grande defesa do goleiro - a bola ainda ficou viva e bateu na trave antes da defesa em dois tempos. E em escanteio pela direita, Scarpa cruzou fechado para o desvio inapelável de Rony no primeiro pau. O segundo do camisa 10 e o terceiro do Palmeiras.

O segundo tempo foi menos aberto, mas não faltaram oportunidades. Nossa defesa permaneceu sólida e tivemos poucos sustos de fato como em uma bola recuada que quase foi roubada, um tiro de longe mandado para escanteio por Weverton, e uma defesa de reflexo após bola parada em que a bola ainda bateu na trave antes de ser afastada pela defesa.

Mas o Palmeirs seguia dono do jogo e tinha muito mais volume. Tivemos outro gol corretamente anulado pois Navarro recebeu de Dudu em posição de impedimento. Já perto do final foi de Wesley (que substituíra Rony) o gol mais bonito da partida: ele recebeu pelo lado esquerdo, chamou a zaga e após pedalar oito(!) vezes cortou para o meio e bateu cruzado, no ângulo esquerdo do goleiro, sem qualquer chance de defesa.

E esta goleada foi o primeiro jogo de Francesco no estádio. Ficou um pouco assustado com o barulho - claro, foram seis gols - e com a quantidade pessoas, mas entre pipocas e refrigerantes foi conhecendo cada detalhes do Palestra e certamente lembrará desta noite no futuro.