Estádio Anacleto Campanella - Amistoso
Eu tinha acabado de fazer sete anos, duas semanas antes. Era aniversário da cidade de São Caetano do Sul, onde meus avós e meu tio viviam. O São Caetano até então era um time semi-profissional, e tinha um rival na cidade - a Internacional, que tinha seu "estádio" dentro do parque que depois seria batizado de Espaço Verde Chico Mendes.
Atualmente o estádio Anacleto Campanella conta com arquibancadas de madeira, estreitas demais para comportar uma torcida organizada que pula durante o jogo, como todos bem sabemos. Na época, havia apenas as bancadas cobertas, além de um "pedaço" de arquibancada móvel que servia como local para a torcida adversária. Eu me lembro de parecer um pódio, de tão pequena e estreita.
Mesmo com estrutura precária (em comparação ao que temos hoje) a reinauguração do estádio no dia do aniversário da cidade era motivo de comemoração, e o Palmeiras foi convidado para uma partida festiva contra um combinado local.
Meu tio deu a ideia e fomos todos ao estádio - meus irmãos, primo e avô - a pé, uma caminhada de aproximadamente 20 minutos. Para mim era tudo novo: outros torcedores indo ao estádio, as ruas estreitas, os ambulantes, a cerveja. Nada de barracas, nem mesmo Topics ou Kombis vendendo sanduíches de pernil: eram lanches de mortadela, dos mais básicos, em caixas de papelão.
Entramos e ficamos nas bancadas cobertas, onde hoje são posicionadas as câmeras da TV. Assim que sentamos, começou a chuva. Um temporal que encharcou o campo rapidamente. O jogo começou de qualquer forma, a chuva diminuiu, e eu mais olhava para os lados, pras pessoas, pra estrutura do estádio, ainda tentando entender o que era tudo aquilo.
Foi quando meu avô se levantou e gritou "gol", e nós pulamos e gritamos juntos. E ele emendou: "Ah não, não foi...". Na verdade foi, um gol CONTRA, de Diogo. Mentiria se dissesse que lembro de como foi o gol, mas lembro claramente da cena do meu avô achando que tinha sido gol a favor. Não importa: o Palmeiras virou ainda no primeiro tempo, indo pro intervalo com 1x3 no placar.
Outro ponto que se perdeu com o tempo: a entrada no intervalo era liberada, ou seja, as catracas eram removidas e quem não tinha ingresso podia entrar de graça para ver o segundo tempo. Não lembro se esta partida teve custo, mas ingressos (retirados ou comprados) foram necessários, e houve entrada de mais pessoas no intervalo.
A chuva deu uma trégua, e lembro claramente da organizada do Palmeiras tomar o "pódio" que chamavam de arquibancada descoberta com suas tradicionais bandeiras (que eu veria tantas vezes no futuro). Meu tio comentou que não duraria muito, e não durou - em poucos minutos a chuva voltou com força e eles correram de volta para as arquibancadas cobertas.
Outro ponto curioso foi o placar, ainda manual, com "plaquinhas" com os números. O Palmeiras marcou o quarto gol e o placar seguiu 1x3. Marcamos o quinto, e nada do placar mudar. Entendemos o que estava acontecendo quando um ajudante subiu a escada que dava acesso ao "operador" do placar: eles não tinham as placas com mais de 3 gols! O ajudante subiu carregando as placas com os números 4, 5, 6 e 7. Infelizmente não usamos todas porque o jogo acabou 1x6.
A saída foi tumultuada. Os ambulantes de fora entraram no estádio para tentar vender cervejas, refrigerantes e sanduíches lá dentro. Um deles derrubou uma caixa de papelão com muitos lanches de mortadela, e meu avô comentou sobre o desperdício. Não havia policiais por perto porque eles, aparentemente, tinham sido dispensados no intervalo.
Isso foi o que consegui guardar de memória do dia. Não me lembro de nenhum dos gols, substituições, nada. Mas lembro de ter sido a primeira (e incrível) experiência em um estádio, e de ter aproveitado a presença de familiares, de ter passado uma tarde muito boa e divertida. Tornou-se um hábito nas décadas seguintes - hábito este que perdura até hoje.
Agradecimento aos amigos @IPEonline e @brunosouzaSEP por informações adicionais e imagens deste post.
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